Unicamp testa tecnologia que une cores e sons para devolver habilidades motoras
a pessoas com sequelas neurológicas
Projeto busca criar um ambiente estimulante ao participante para que ele tenha
liberdade de escolher os movimentos que deseja realizar, conduzindo o próprio
tratamento.
Unicamp testa tecnologia que faz fisioterapia descontraída em pacientes com
sequelas [https://s02.video.glbimg.com/x240/13220589.jpg]
Unicamp testa tecnologia que faz fisioterapia descontraída em pacientes com
sequelas
Imagine uma pequena sala revestida com espuma acústica, com três telões brancos
e um projetor. Este equipamento está conectado a caixas de som e um aparelho
popular em videogames usado para captar movimentos corporais.
Conforme você se movimenta, surgem imagens abstratas e coloridas acompanhadas de
diferentes sons, que variam de acordo com a intensidade e a fluidez das ações.
Resumidamente, é assim que funciona uma tecnologia desenvolvida na Unicamp
[https://g1.globo.com/educacao/universidade/unicamp/] que busca unir arte e
ciência na reabilitação de pacientes com sequelas neurológicas e motoras.
Criado pela musicóloga Elena Partesotti em parceria com a docente Gabriela
Castellano, o BehCreative estimula processos artísticos e criativos para
promover bem-estar físico e psicológico. A ideia é que o ambiente dê ao
participante liberdade para escolher os movimentos que deseja realizar,
conduzindo o próprio tratamento.
“O BehCreative são instrumentos digitais musicais estendidos. Basicamente, em
poucas palavras, o seu corpo vira um instrumento musical”, explica Elena
Partesotti.
A tecnologia, cujo nome deriva da expressão “behave creatively” (comporte-se
criativamente, em inglês), utiliza um sistema de realidade virtual e aumentada
composto por um computador, rastreador de gestos, projetores e caixas de som. A
interação ocorre a partir dos movimentos corporais do participante, que
controlam sons e imagens projetados no ambiente.
Segundo Partesotti, a proposta inicial era explorar os potenciais criativos e
terapêuticos do projeto no contexto da musicoterapia, especialmente em relação à
regulação emocional e à expressão criativa.
Estudos preliminares realizados com um grupo de pessoas saudáveis mostraram que
o projeto despertou alterações na conectividade cerebral em regiões associadas
às emoções e à criatividade. Segundo as pesquisadoras, em pacientes com acidente
vascular cerebral (AVC), os estudos mostraram aumento de conectividade em áreas
motoras.
O uso no tratatmento de pacientes segue em fase de testes. Durante os
experimentos, que acontecem no Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora
(Nics) da Unicamp, eles utilizam o equipamento por até 10 minutos, enquanto
passam por avaliações de eletroencefalografia para medir alterações no
funcionamento cerebral.
Segundo Partesotti, a musicoterapia oferece benefícios para a promoção da saúde
física e mental, podendo estimular a produção de hormônios como ocitocina e
dopamina, conectados a sentimentos de prazer e bem-estar.
A pesquisadora também destaca que essas práticas contribuem para a
neuroplasticidade do cérebro – a capacidade do sistema nervoso central de se
adaptar a novos estímulos – e para a reabilitação de funções motoras e
cognitivas.
Para Partesotti, a tecnologia oferece uma forma de aliar esses benefícios ao
tratamento de pacientes com sequelas neurológicas e motoras. “É uma forma
descontraída de trabalhar movimentos e criar espaços acolhedores, onde o
paciente é protagonista do seu próprio tratamento”, conclui.