Transferência de Léo: Vasco acerta venda do zagueiro ao Athletico-PR

Léo deixa o Vasco após desgastes e críticas da torcida, acertando transferência para o Athletico-PR. Zagueiro sentiu-se perseguido e injustiçado.

De capitão ao adeus: como os erros e o desgaste com torcida abalaram a relação
de Léo com o Vasco

De malas prontas para o Athletico, zagueiro não via mais clima para continuar no
clube pelo qual inicialmente sentiu forte identificação e teve seu pedido para
sair atendido pela diretoria

Vasco acerta venda do zagueiro Léo ao Athletico-PR

Vasco acerta venda do zagueiro Léo ao Athletico-PR

Uma das primeiras contratações da era SAF do Vasco, Léo chegou ao clube com
planos para ficar por muito tempo. O zagueiro, no início, sempre procurou
destacar a rapidez com a qual se identificou com a equipe que se orgulha das
raízes progressistas e é referência na luta por causas sociais, dentre as quais
o combate ao racismo. “Jogar no Vasco é representar um clube que me representa”,
disse em abril deste ano ao The Players Tribune.

Corta para o final da temporada. Encerrado o Brasileirão, o zagueiro procurou a
direção e pediu para ser negociado. O desgaste com a torcida foi o principal
motivo: Léo reconhece que cometeu falhas e que oscilou em algumas atuações, mas
ele e as pessoas que o cercam acreditam que as críticas são fora do tom. O
jogador se sente perseguido e injustiçado. Por esse motivo, por achar que não há
jeito para reparar essa relação, ele não queria continuar.

A diretoria atendeu o pedido. Nesta quinta-feira, Vasco e Athletico chegaram a
um acordo pela transferência de Léo. O Furacão vai pagar US$ 2 milhões (cerca de
R$ 12,3 milhões na cotação atual). O valor é US$ 1 milhão a menos do que foi
investido pelo clube carioca dois anos atrás, mas a diretoria acredita que, na
medida do possível, conseguiu fazer um bom negócio. O zagueiro tinha apenas mais
um ano de contrato, o que significa que a partir de junho poderia acertar com
qualquer clube para sair de graça em dezembro.

No início da temporada, uma atitude em específico fez Léo cair nas graças do
torcedor: com o consentimento de outros líderes do elenco, ele se reuniu com o
então diretor-esportivo Paulo Bracks e pediu para que as premiações fossem
distribuídas com todos os funcionários do CT Moacyr Barbosa. Alguns
diziam, orgulhosos, que o zagueiro tinha a cara do Vasco.

Depois de quatro temporadas e mais de 160 jogos com a camisa do São Paulo, Léo
foi contratado pelo Vasco no fim de 2022. Na sua apresentação oficial, no dia 4
de janeiro de 2023, o zagueiro foi só sorrisos na sala de imprensa.

Nêne era o capitão da equipe naquele momento, mas, diante da chegada de tantos
reforços, o experiente meia foi para o banco na virada do ano. Maurício
Barbieri, então, entregou a braçadeira para Léo, que em pouco tempo mostrou
perfil de liderança e se identificou com o clube. As primeiras atuações foram
animadoras – em fevereiro, na goleada por 5 a 0 sobre o Resende, ele voltou a
marcar um gol depois de seis anos.

Em um vídeo promovido pelo clube, Léo foi levado ao museu de São Januário para
visitar o documento original da Resposta Histórica. “Quando eu cheguei e fiquei
sabendo detalhes da história do Vasco, eu me identifiquei bastante”, disse na
ocasião.

Pelas reações nas redes sociais, houve um ou outro torcedor que lamentou a saída
de Léo por acreditar que ele ainda poderia ser útil, mas é praticamente unânime
a conclusão de que essa foi a melhor saída para todos os lados. Mas como a
relação que começou com carinho recíproco se deteriorou em dois anos? Como o
jogador que foi capitão e que possui enorme respeito de companheiros e
funcionários de clube vai embora com a imagem desgastada?

A chegada de Ramón Díaz e dos reforços mudou a rota do Vasco no campeonato.
Diante do impacto imediato e dos bons resultados da equipe, que começou a
ensaiar uma reação, uma das primeiras decisões do treinador argentino a
princípio foi pouco comentada: Ramón tirou a braçadeira de Léo e entregou a Gary
Medel.

Na ocasião, Léo ficou incomodado com a condução do técnico, que não deu maiores
explicações nem a ele nem ao grupo sobre sua escolha. O zagueiro acredita que
poderia ter havido ao menos uma conversa. Mais tarde, mesmo com o sucesso na
fuga do rebaixamento, Léo já confidenciava aos mais próximos seu
descontentamento com a “panela dos gringos” promovida por Ramón no clube.

Mesmo sem a faixa de capitão, o jogador não perdeu o status de titular e formou
a dupla de zaga em praticamente todas as rodadas dali até o fim do campeonato.
Terminou a temporada com 46 partidas disputadas, 42 como titular. Na última
rodada, na vitória sobre o Bragantino que selou a permanência do Vasco na Série
A, a cena do zagueiro abraçando aliviado os irmãos ainda no gramado de São
Januário viralizou entre os torcedores.

Em janeiro deste ano, já na pré-temporada da equipe no Uruguai, Léo mostrou-se
otimista:

– Vou ser sincero. Todo mundo ficou incomodado ano passado. Não foi espetacular,
temos que levar de aprendizado para não acontecer os mesmos erros. Não que só
tiveram coisas ruins, é pegar o que foi bom para somar e não repetir o ano
passado. No último jogo parecia que estava infartando, em certo momento
estávamos rebaixando com o Vasco da Gama – disse.

No início de sua segunda temporada com a camisa do Vasco, as críticas e os
puxões de orelha já existiam, mas não encontravam coro na maioria da torcida. O
clube foi ao mercado buscar alguém para a zaga, contratou João Victor, mas o
empréstimo de Capasso para o Olimpia e a ausência de outro zagueiro canhoto no
elenco preservaram o prestígio de Léo na equipe. Logo em sua primeira partida em
2024, fez um dos gols da vitória por 2 a 0 sobre o Madureira no Carioca.

No entanto, como no ano anterior, o início do Brasileirão marcou o começo da
derrocada. O Vasco mais uma vez não largou bem, e Ramón Díaz caiu logo na quarta
rodada, após goleada sofrida para o Criciúma em São Januário. A paciência da
torcida diante do sinal de mais uma temporada de sofrimento foi se esgotando, e
Léo tornou-se um dos principais alvos da insatisfação.

Os holofotes foram jogados em especial sobre duas deficiências do jogo do
zagueiro: a dificuldade de tirar o espaço do atacante em lances de 1 x 1, como
no gol de Deivid Washington na derrota para o Santos no Brasileirão do ano
passado; e o hábito de deixar sua posição para dar o combate, não matar a jogada
e dar espaço para a infiltração do adversário, como no primeiro gol do Criciúma
na goleada por 4 a 0.

Léo também ficou marcado por lances como a falha no gol de Bustos, do
Internacional, no Beira-Rio; no primeiro gol do Criciúma, no empate em 2 a 2; no
gol de Jhon Jhon, do Bragantino, no empate; e no gol de Arrascaeta, na goleada
do Flamengo por 6 a 1. Contudo, o jogador entende que as críticas são sempre mais
pesadas quando direcionadas a ele, até mesmo quando outros companheiros cometem
falhas iguais ou maiores.

Em agosto, durante a festa oficial do aniversário do Vasco, um comediante tirou
sarro de Léo. O zagueiro ficou profundamente chateado com o episódio.

Como se não bastasse, a sorte também não acompanhou Léo na passagem pelo Vasco,
que o diga os gols perdidos embaixo da trave. Mas o maior exemplo disso talvez
tenha sido no segundo jogo contra o Atlético-MG, pela semifinal da Copa do
Brasil. Após tantos comentários de que deveria ser mais firme na marcação, o
zagueiro parece ter entrado em campo disposto a não deixar Hulk respirar, levou a
melhor em praticamente todas as disputas contra o atacante do Galo e teve uma
atuação quase impecável naquela noite em São Januário.

Com a confiança abalada, Léo nitidamente passou a arriscar menos conduções e
acelerações nas saídas de bola. No Athletico, Léo vai voltar a trabalhar com
Maurício Barbieri, com quem provavelmente viveu seu momento menos conturbado com
a camisa do Vasco.