Pular 7 ondas, vestir roupa branca: conheça tradições de Ano Novo herdadas das
religiões afro
Muitos rituais de réveillon têm origem no Candomblé e Umbanda. No Distrito
Federal, o ‘Réveillon da Prainha’ reúne seguidores de religiões africanistas, ou
não, que fazem questão de entrar o ano de acordo com antigos costumes.
Fogos de artifício durante festa de Ano Novo na Praça dos Orixás, em Brasília — Foto: Toninho Tavares/Agência Brasília
A virada de ano é um momento marcante e de muita festa no mundo inteiro. No Brasil, muitas
tradições têm origem nas religiões de matriz africana, como vestir branco e
pular sete ondas, e são adotadas por pessoas independentemente da crença
seguida.
Em Brasília, uma das festas mais tradicionais de réveillon acontece na Praça dos Orixás, também conhecida como Prainha (saiba mais abaixo).
De acordo com o Bábà Joel de Osàgíyan, representante da Umbanda no Distrito
Federal, “todo brasileiro tem um pezinho na África”.
> “Ações como pular sete ondinhas, passar o réveillon de branco, jogar flores na
> água, acender velas, são alguns dos bons exemplos desta tradição herdada
> principalmente do Candomblé e Umbanda”, diz Bábà Joel de Osàgíyan.
Veja abaixo a origem e o motivo de algumas das tradições.
VESTIR BRANCO
Vestir branco é a tradição mais conhecida e seguida no Ano Novo. Segundo a
Ialorixá Adna Santos, mais conhecida como Mãe Baiana, o branco está ligado ao
orixá Oxalá, que simboliza a paz e harmonia nas religiões.
> “Quando você veste uma roupa branca, você também está buscando a paz. A pomba
> branca, que representa o Espírito Santo na Igreja Católica, a Umbanda também
> usa esse símbolo. A gente busca a paz. Nós passamos a virada de ano com roupas
> brancas desejando e pedindo paz para todas as pessoas, para nós, nossa
> família, nossos amigos, até para os nossos inimigos”, diz Mãe Baiana.
Além do branco, vestir amarelo para “atrair dinheiro” também é tradição de
religiões de matriz africana.
Oxum é a orixá do ouro, da beleza e das águas doces, de acordo com essas
religiões.
JOGAR FLORES NO MAR
Oferendas a Iemanjá — Foto: Gabriel Luiz/DE
Jogar flores e velas no mar também é uma tradição herdada do Candomblé e da
Umbanda, diz Mãe Baiana. Tradicionalmente, as pessoas fazem oferendas para
Iemanjá, a Rainha do Mar, pedindo bênçãos e proteção.
> “Segundo a nossa tradição, Iemanjá é dona de todos os ‘ouris’. Ou seja,
> Iemanjá é dona de todas as cabeças […] ela cuida de todos nós. Quando você
> coloca uma flor nas águas, você também está agradecendo a Iemanjá pelo
> cuidado, pelo carinho, a saúde mental”, diz a Ialorixá.
Além de um símbolo de amor, respeito e agradecimento a Iemanjá, as flores também
são um pedido de boa sorte e proteção para o ano que está começando.
PULAR 7 ONDAS
Pular sete ondas na virada do ano é uma tradição originária da Umbanda, onde
cada pulo é um agradecimento ou pedido para o ano que chega.
O número sete representa as Sete Linhas da Umbanda, entendidos como os sete
sentidos da vida ou as sete qualidades de Deus nos sete orixás: Oxalá, Oxum,
Oxóssi, Xangô, Ogum, Obaluaiê e Iemanjá.
> “Pessoas que não têm religião passam o réveillon na beira da praia e ali
> acreditam que pulando as sete ondas estão dispensando algo negativo que houve
> durante o ano, e buscando algo de bom para o futuro, para que o ano que está
> chegando seja de paz, de caminhos abertos, de sucesso, de prosperidade. Um ano
> de tudo de bom”, diz Mãe Baiana.
Segundo a Ialorixá, na tradição, para cada onda que se pula, se faz um pedido.
“Cada pulo é um pedido a uma entidade”.
INCENSOS E VELAS
Adeptos de religiões de matriz africana participaram das cerimônias de
Ano Novo na Praça dos Orixás, no Lago Sul, em Brasília — Foto: Toninho
Tavares/Agência Brasília.
A mesa farta de frutas está relacionada ao orixá das matas, Oxóssi. Acender
incensos e velas e defumar a casa é um hábito africano ligado à limpeza e
purificação espiritual, além de afastamento de energias ruins.
> “As velas são as luzes que a gente dá para os espíritos, para os nossos
> ancestrais, para os nossos antepassados. Você dá a luz para aqueles que já
> foram”, explica Mãe Baiana.
BANHO DE DESCARREGO COM ERVAS
Outro ritual de réveillon é o banho de ervas. Segundo Mãe Baiana, o banho serve
para tirar as energias negativas adquiridas ao longo do ano.
“O banho de descarrego é justamente para isso, para descarregar, tirar,
dispensar essas energias negativas. Às vezes chega uma pessoa na sua casa, no
seu trabalho, no seu local de convivência, e essa pessoa conversa com você ali
dois minutinhos, e quando ela sai, você começa a bocejar, abre a boca… Então
isso é o quê? Alguma energia negativa essa pessoa estava, e aí automaticamente
ela dividiu com você. Ela vai embora melhor e você fica com essa carga, que dá
sono, o corpo fica mole. O banho de erva renova as forças, nossas energias”,
ensina Mãe Baiana.
RÉVEILLON NA PRAÇA DOS ORIXÁS – PRAINHA
🗓️ 31 de Dezembro
17h: Abertura com DJ
18h: Encontro de Baterias (Aruc e Capela Imperial)
19h30: Rosemaria e Célia Rabelo
21h: Asé Dudu
22h: Expressão das Religiões de Matrizes africanas e Afro Brasileira
0h: Fogos e Tradicional Cascata
0h30: Banda Patacori
2h: Joia do Couro
4h: Grupo Cultural Obará
6h: Encerramento
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