Papagaios-de-peito-roxo ganham nova chance em Dom Joaquim, MG
Projeto tem reabilitado a espécie em antiga área de ocorrência. Recentes
solturas aumentam esperança no sucesso da iniciativa.
Papagaios-de-peito-roxo voando para fora do recinto em Dom Joaquim (MG) —
Foto: Mariana Bertrand
Conduzido pelo instituto de pesquisa e conservação Waita, um projeto vem
estimulando o crescimento da população de papagaios-de-peito-roxo (Amazona
vinacea) da cidade de Dom Joaquim (MG), local de ocorrência natural da espécie.
Endêmica da Mata Atlântica, a ave está ameaçada de extinção e, atualmente, o
total de indivíduos fica em torno de 8.500 adultos na natureza, segundo a
literatura científica. As principais ameaças que acometem a espécie são o
tráfico ilegal de animais silvestres e a degradação de seu habitat.
Com objetivo de conservar os poucos papagaios-de-peito-roxo que restam, o
Projeto Voar realiza a reabilitação de aves vítimas do tráfico. Feito isso, os
animais são transferidos para a área de soltura, na qual passam por um período
de adaptação antes de serem liberados.
Papagaios-de-peito-roxo no recinto de aclimatação — Foto: Mariana
Bertrand
Previamente à soltura, comedouros suplementares são adicionados em pontos
estratégicos da região, de modo que os animais tenham acesso à alimentação até
que se estabeleçam e fiquem totalmente independentes. Também são instaladas
caixas ninho nessa área.
Já em liberdade, os papagaios-de-peito-roxo são acompanhados e monitorados pelos
pesquisadores durante o período de um ano. Nesse momento, os pesquisadores fazem
avaliações comportamentais e observam como os animais estão se adaptando na
natureza.
Papagaios-de-peito-roxo se alimentando no comedouro do recinto — Foto:
Mariana Bertrand
De acordo com Victor Franzone, coordenador do projeto, 66 indivíduos passaram
pelos protocolos de reabilitação e 50 animais já foram liberados pela equipe
desde 2021, quando o projeto começou. “Alguns deles dispersaram da área de
soltura e não foram mais avistados, enquanto outros seguem próximos à região em
que foram liberados mesmo três anos após sua liberação”, comenta.
O projeto busca a criação e o aprimoramento de um protocolo que possa ser
aplicado não só para a espécie alvo da pesquisa, mas também para outras espécies
de psitacídeos ameaçados.
Equipe presente no dia da soltura dos papagaios-de-peito-roxo em 2024 —
Foto: Mariana Bertrand
No final de novembro, 12 papagaios-de-peito-roxo vítimas do tráfico de animais
silvestres ganharam a liberdade em Dom Joaquim. A ação ocorreu em parceria com o
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama)
e o Instituto Estadual de Florestas (IEF-MG).
Além das ameaças que enfrentam, a reprodução por si só da espécie também é um
pouco complicada. Os papagaios-de-peito-roxo nidificam em cavidades nas árvores,
mas não as constroem. Assim, acabam dependendo de ocos já existentes para fazer
a postura dos ovos.
Instalação de caixas ninho e câmeras trap pela equipe — Foto: Mariana
Bertrand
O contato e o engajamento da sociedade são essenciais para qualquer medida
conservacionista. Victor conta que, ao longo dos anos, o instituto realizou
atividades em praças e escolas da cidade, em parceria com a prefeitura, para se
aproximar da comunidade e sensibilizá-la.
Papagaios-de-peito-roxo voando em liberdade — Foto: Mariana Bertrand
“Mais que uma população sensibilizada, uma população ativa é capaz de entender
a problemática trazida pelo projeto, identificar possíveis pontos de ação,
prospectar informações e atuar em parceria na linha de frente para a
conservação”, explica o coordenador da iniciativa.
Em 2023, foi aprovado na Câmara Municipal de Dom Joaquim o “Dia do
Papagaio-de-peito-roxo”, comemorado anualmente em 22 de outubro. Desde então, a
espécie se tornou símbolo da cidade, o que vem aumentando o impacto de
iniciativas de conservação, que puderam chegar a um público cada vez maior e
mais diverso.
Papagaio-de-peito-roxo da soltura de 2023 que está adaptado e vivendo no
local — Foto: Mariana Bertrand
Além do papagaio-de-peito-roxo, o Waita realiza um projeto de conservação com o
bicudo e também já realizou solturas com papagaio-verdadeiro, que se encontra
Quase Ameaçado (NT) de extinção.
“Também desenvolvemos o projeto ‘Bicho Solto’, que é executado dentro do Centro
de Triagem de Animais Silvestres de Belo Horizonte (CETAS-BH) e trabalha com uma
variedade enorme de espécies, muitas das quais são ameaçadas de extinção”,
afirma Victor.
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