Pesquisa aponta como expansão urbana e mudanças climáticas afetam a vida dos beija-flores
Estudo que incluiu 176 espécies de beija-flores e 1.180 espécies de plantas mostrou que habitats urbanos contém associações mais generalizadas do que áreas naturais.
Interação entre beija-flor-de-peito-azul (Chionomesa lactea) e uma planta não nativa (flor-camarão) em uma área urbana DE Belo Horizonte (MG) — Foto: Pedro A. Anselmo
“Essa é uma velha história de uma flor e um beija-flor que conheceram o amor, numa noite fria de outono”. Os versos ganharam som e vida na música brasileira. Um sucesso cantado por Marília Mendonça com a dupla Henrique e Juliano. Mas o que na canção significa poesia, na biologia tem outro nome: função ecossistêmica. Flores e beija-flores estão conectados e são dependentes dessa relação.
Entre a variedade de aves existentes no planeta, os beija-flores são sem dúvida uma das mais admiradas. Esses integrantes da família Trochilidae, originários das Américas, ocorrem desde o Alasca até o sul do continente. A maior biodiversidade é encontrada no Brasil e no Equador. Os dois países contam com quase metade das espécies conhecidas até agora. Aves de pequeno porte, eles medem em média de seis a doze centímetros de comprimento, o peso varia de dois a seis gramas.
Entre os vertebrados, os beija-flores são o grupo de polinizadores mais diverso, interagem com flores e auxiliam na reprodução delas. Os Trochilidaesão reconhecidos por terem características mais especializadas nesse modo de vida, já que apresentam corpo diminuto, metabolismo acelerado, bico e língua adaptados para a alimentação com o néctar.
Na América, milhares de plantas dependem dessas pequenas aves para a existência. Entre elas, muitas das flores mais vistosas e coloridas da natureza. Mas nesse continente com mais de 1 bilhão de habitantes, a expansão urbana vêm interferindo na vida deles.
Professor do Departamento de Genética, Ecologia e Evolução, ICB da Universidade Federal de Minas Gerais, Pietro Maruyama participou de um estudo internacional sobre o caso. Ele foi principal responsável por idealizar e coordenar a pesquisa. O pesquisador escreveu o texto final que contou com colaboração de 69 co-autores.
O estudo mostrou que a urbanização tem remodelado os ecossistemas. Ainda não é totalmente claro até que ponto ela se sobrepõe aos padrões naturais, tais como o efeito do clima na promoção da biodiversidade. Os pesquisadores utilizaram dados de mais de uma centena de comunidades ecológicas entre beija-flores e plantas mutualísticas.
Comunidade ecológica é um conjunto de populações de diferentes espécies que vivem em determinada região, em um período específico de tempo, e conectados pelas interações que apresentam. A pesquisa feita desde o México até o Brasil que incluiu 176 espécies de beija-flores e 1.180 espécies de plantas mostrou que os habitats urbanos contém associações mais generalizadas do que as áreas naturais, com espécies exibindo maior sobreposição de interação entre elas.