Operação Scream Fake suspende ONG envolvida com PCC e identifica novo setor da facção; cinco suspeitos são presos no Oeste Paulista
‘Setor das Reivindicações’ promovia ações judiciais com acusações falsas de abuso contra agentes públicos para questionar o trabalho exercido na sociedade
Operação Scream Fake suspende ONG envolvida com PCC e identifica novo setor da facção — Foto: Polícia Civil
Cinco pessoas foram presas nesta terça-feira (14) no Oeste Paulista durante a Operação Scream Fake realizada pela Polícia Civil e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPE-SP). Os indiciados são suspeitos de envolvimento em diversos setores da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
Um homem e uma mulher foram presos em Presidente Prudente e outros três homens, atualmente custodiados nas penitenciárias de Irapuru (SP), Flórida Paulista (SP) e Presidente Venceslau (SP), também foram indiciados.
A operação é fruto de uma investigação em andamento há cerca de três anos, que teve início a partir da tentativa da entrada de uma visitante na Penitenciária II de Presidente Venceslau com mídias externas escondidas nas roupas.
Com as apreensões dos cartões de memória e análise dos manuscritos em 2021, em conjunto com informações de inteligência extraídas de outras investigações, foram identificados ações ilícitas na sociedade promovidas por três setores da organização criminosa denominadas ‘Gravatas, Saúde e Financeira’.
A investigação ainda revelou a existência de um novo departamento dentro da facção chamado “Setor das Reivindicações”. A finalidade desse setor seria o de promover ações judiciais ilegítimas, manifestações populares desvirtuadas e denúncias infundadas, para desestabilizar o sistema de justiça criminal e colocar a opinião pública contra o poder estatal, explicou a Polícia Civil.
As ações do Setor das Reivindicações estariam sendo feitas por meio da Organização Não-Governamental (ONG) Pacto Social & Carcerário S.P – Associação de Familiares e Amigos de Reclusos, sediadas em uma comunidade em São Bernardo do Campo (SP).
As investigações apontaram que a ONG não possuía identificação ou movimentação de que funcionava normalmente. A organização teria sido criada pelo Setor das Gravatas da facção e estaria prestando contas sobre o tráfico de drogas ao PCC.
Além disso, a cúpula da facção recebia atualizações sobre as atividades da ONG e como ela atendia os interesses do PCC através das manifestações judiciais ilegítimas, além de outras ações como ataques a agentes públicos, que deveriam ser praticados por meio de represálias, acompanhas de falsas acusações de abusos.
“A finalidade desse setor seria o de promover ações judiciais ilegítimas, manifestações populares desvirtuadas e denúncias infundadas, para desestabilizar o sistema de justiça criminal e colocar a opinião pública contra o poder estatal”, pontuou a Polícia Civil.
A Operação Scream Fake também revelou outras ações ilícitas realizadas pelos setores Gravatas, Saúde e Financeira do PCC.
As investigações revelaram que advogados vinculados ao Setor das Gravatas, que consiste em um ramo dedicado à assistência jurídica da facção, promoviam o gerenciamento do Setor da Saúde ao cooptar médicos e dentistas, sem qualquer vínculo com o crime organizado, para prestarem atendimentos particulares e exclusivos a detentos faccionados e custodiados na Penitenciária II de Presidente Venceslau e no Centro de Readaptação Penitenciária, unidade em que vigora o Regime Disciplinar Diferenciado.
Os detentos beneficiados com os atendimentos normalmente possuem relevância na estrutura piramidal da facção. O Setor da Saúde funciona como uma espécie de “plano de saúde do crime organizado”, que é muito seletivo.
Os profissionais médicos e dentistas que acabam aderindo – ainda que inconscientemente – ao “Setor da Saúde”, passam a ser remunerados pelos serviços prestados com recursos ilícitos da organização criminosa, por meio do “Setor das Finanças”, com valores majorados e expressivos pagos mediante depósitos não identificados, transferências bancárias originárias de contas em nome de terceiros desconhecidos ou por meio de transferências realizadas diretamente pelo advogado ao profissional médico/dentista ou a clínica a ele vinculada, explicou a Polícia Civil.
Os médicos e dentistas foram ouvidos e informaram que vários serviços eram prestados, inclusive com intervenções estéticas e cirúrgicas, muitas vezes sem qualquer conhecimento do preso/paciente sobre os valores e a forma de pagamento, o que apontou que os atendimentos eram coordenados e executados pela facção em benefício de integrantes qualificados em funções de destaque dentro do PCC.
Desta forma, os advogados não exerciam funções pertinentes a advocacia, mas como integrantes do Primeiro Comando da Capital.
Nesta terça-feira, a Polícia Civil e o Ministério Público cumpriram 12 mandados de prisões preventivas e 14 mandados de busca e apreensão domiciliar em Presidente Prudente, Flórida Paulista, Irapuru, Presidente Venceslau, Ribeirão Preto (SP), Sorocaba (SP), Guarulhos (SP), São Paulo (SP) e Londrina (PR)
Dentre esses presos constam três advogados, apontados como integrantes da facção criminosa, a presidente e o vice-presidente da ONG.
Além disso, a ONG teve os seus serviços suspensos por ordem judicial e as suas redes sociais retiradas do ar.