O que o aumento de gás carbônico (CO₂) na atmosfera, provocado pelas mudanças climáticas, significa para as populações da região Amazônica e do mundo? Para cientistas, essas implicações são um problema do presente – e é preciso, cada vez mais, pensar em estratégias para mitigar os impactos.
A previsão é que, por conta da ação humana, a concentração de CO₂ no ar da floresta daqui a 35 anos seja 50% maior do que é hoje, mas pesquisadores da Unicamp garantem: as pessoas que fazem parte do ecossistema da Amazônia já têm feito adaptações por conta das mudanças climáticas.
Essa análise dos impactos socioambientais das mudanças climáticas previstas para acontecer até 2060 é uma das principais frentes do experimento científico AmazonFACE. Para tornar a pesquisa possível, os cientistas construíram uma “máquina do tempo” no meio da floresta.
Durante pelo menos 10 anos, essa estrutura vai aumentar artificialmente a concentração de CO₂ no ar em áreas delimitadas. Além da estrutura em si, uma equipe do projeto vai avaliar, no mesmo período, como as populações que dependem da floresta respondem às alterações do clima.
Por mais que as pessoas na cidade, em Manaus ou em outros lugares, pensem que não dependem da floresta, elas dependem também. Não é só o ribeirinho ou o indígena. Isso vai ter um impacto em diferentes setores socioeconômicos, por isso essa investigação socioambiental.
A área socioambiental do experimento é coordenada por pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP). Para essa equipe, há três perguntas centrais que devem ser respondidas pelo projeto na próxima década:
1. Como as mudanças na floresta causadas pelo aumento de CO₂ impactam os sistemas socioecológicos na Amazônia?
2. Como as populações humanas da Amazônia podem se adaptar às mudanças na floresta causadas pelo aumento de CO₂ e pelas mudanças climáticas?
3. Como o experimento AmazonFACE está impactando, coproduzindo e influenciando políticas públicas?
A previsão é que o experimento científico comece em maio de 2025. Um dos objetivos é que os dados obtidos na próxima década ajudem a nortear políticas públicas pensadas justamente para quem depende direta ou indiretamente da floresta. Para Carlos Alberto Quesada, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e um dos coordenadores do experimento, “entender como essas florestas vão ser afetadas [pelo aumento de CO₂] significa entender como nós vamos ser afetados”.
Há, ainda, uma preocupação no aspecto cultural. Isso porque o aumento de CO₂ na atmosfera pode trazer impactos negativos para espécies que têm usos milenares, por meio de um conhecimento sobre a floresta passado de geração em geração. Além da ancestralidade, as espécies presentes na Amazônia também se destacam pelo potencial para serem utilizadas pelas indústrias farmacêutica e alimentícia.