Diplomacia, inflação, câmbio: o que influencia e o que está em jogo nas exportações de café para os EUA
Maior produtor do mundo, Brasil exportou, em 2024, US$ 1,9 bilhão do grão para os norte-americanos, agora sob o comando de Donald Trump. Especialistas não acreditam em taxação imediata, mas cenário político causa apreensão.
De um lado, o Brasil, maior produtor de café do mundo. Do outro, os EUA, o maior mercado consumidor em termos absolutos e o principal comprador do grão brasileiro. No meio, uma conjunção de fatores políticos e econômicos, em grande parte influenciados pela posse do presidente Donald Trump, que devem dar o tom a uma das mais importantes atividades agrícolas do país.
Um setor que começa 2025 com uma projeção de quebra na safra após perdas com os incêndios e efeitos climáticos do ano passado.
Produção de café na Alta Mogiana, no interior de São Paulo. — Foto: Reprodução/EPTV
As incertezas em torno de mercados como o cafeeiro ficaram mais evidentes principalmente após Trump anunciar taxas a produtos estrangeiros. Em um dos episódios mais recentes, ele chegou a impor de imediato 25% sobre produtos colombianos, como o café, após o presidente Gustavo Petro se recusar a receber aviões com imigrantes repatriados. Como o chefe sul-americano voltou atrás, nenhuma taxação foi aplicada por Trump.
Quando questionado sobre o assunto, por sua vez, o presidente Lula disse que haverá reciprocidade do Brasil caso os produtos do país sejam taxados.
Além de anunciar ‘tarifaço’ para Canadá e México, Trump afirmou que ainda está estudando medida semelhante para a China. — Foto: Getty Images via BBC
Nos tópicos a seguir, entenda alguns fatores que podem influenciar as exportações de café:
QUAL É O PESO DOS EUA PARA AS EXPORTAÇÕES DO CAFÉ BRASILEIRO?
Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, em 2024 o Brasil exportou para outros países 50,5 milhões de sacas de café (60kg), com uma alta de 28,8% com relação a 2023, e uma receita total de US$ 12,3 bilhões – uma elevação de 52,6% nos ganhos.
Principal comprador do grão, os EUA importaram US$ 1,9 bilhão em café não torrado, o que corresponde a 4,7% de tudo o que adquiriram do Brasil no ano passado e que rendeu US$ 40,3 bilhões.
Na comparação com o período anterior, o valor é superior tanto em termos absolutos – em 2023 foi US$ 1,13 bilhão – quanto na participação na balança comercial – 3,1%.
Em regiões como a de Franca (SP), no interior de São Paulo, a participação dos EUA nas exportações de café subiu de 11,7% para 19,8%, segundo a Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas (Cocapec), que agrega produtores rurais de 16 municípios da Alta Mogiana.
“Em relação a exportação, tanto Brasil quanto nós aqui batemos recorde de exportação. Foi o ano que a Cocapec mais exportou café”, afirma o gerente de negócios da cooperativa, Ricardo Ravagnani.
QUAL É A EXPECTATIVA DE PRODUÇÃO PARA A SAFRA 2025?
Com eventos climáticos adversos e perda de produtividade, o Brasil produziu, em 2024, 54,2 milhões de casas de café de 60 kg, o que resultou em uma retração de 1,6% na comparação com 2023, de acordo com Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Para 2025, a projeção da companhia é de que a produção total seja de 51,8 milhões de sacas, com uma redução de 4,4%. Isso por conta de efeitos da estiagem e das altas temperaturas na floração, bem como dos incêndios que destruíram cafezais no ano passado.
Cafezal na região de Franca (SP) — Foto: Reprodução/EPTV
O QUE PODE INFLUENCIAR NA TAXAÇÃO DO CAFÉ BRASILEIRO?
Especialistas consultados pelo DE não acreditam em uma taxação imediata de Trump sobre produtos brasileiros como o café, mas indicam alguns fatores importantes a serem considerados.
Política internacional: um deles diz respeito às relações diplomáticas entre Brasil e EUA, agora colocadas sob avaliação diante de chefes de Estado pertencentes a campos ideológicos distintos.
Câmbio: nesse contexto, também pesa, por exemplo, a variação do dólar. Uma conjuntura de desvalorização do real – hoje com uma cotação padrão mais perto dos R$ 6,00 do que dos R$ 5,00, mesmo com as recentes baixas – por um lado pode ser favorável aos produtores brasileiros que exportam café, que podem se tornar um elemento de pressão política por uma postura mais neutra do Brasil com relação aos EUA.
China: Outro peso nessa balança é como será a relação entre Trump e a China. Ainda na campanha, o presidente eleito prometeu tarifas de até 60% para produtos asiáticos, mas, ao assumir a Casa Branca, amenizou o tom e cogitou um acordo comercial com Pequim. Uma eventual taxação sobre produtos chineses poderia abrir espaço para uma nova guerra comercial entre as duas potências e encarecer itens essenciais para a cadeia produtiva em todo o mundo, inclusive no Brasil. Também poderia abrir caminho para que os asiáticos busquem ainda mais o mercado brasileiro.
Inflação: os impactos sobre a inflação nos EUA também entram nos cálculos políticos e econômicos. Como são os maiores consumidores da bebida, mas não a produzem, os norte-americanos podem sentir um efeito imediato nos preços do mercado interno com uma taxação sobre o café brasileiro.
Taxa de juros: outro fator relevante com diferentes desdobramentos diz respeito às medidas de controle da economia norte-americana. Uma taxa de juros mais alta por lá, que é um instrumento usado para controlar os preços, pode atrair mais investidores para os títulos do tesouro norte-americano, o que fortalece ainda mais o dólar. Para quem produz no Brasil, isso significa uma elevação nos custos.
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