Bandeirante de Brodowski: raízes do futebol amador com apoio de ex-ministro e Rei Roberto Carlos na Copinha

Conheça a história do Bandeirante de Brodowski (SP), clube amador tradicional com apoio de Roberto Carlos na Copa São Paulo. Leia mais!

Rei do amador em SP, estreante na Copinha teve ajuda de ex-ministro e até do
Rei Roberto Carlos

Conheça o Bandeirante de Brodowski (SP), criado em 1933 e gerido pela mesma
família há 60 anos. Clube teve incentivo de ídolo da MPB em construção de seu
estádio

Futebol Raíz: conheça a história do futebol amador de Brodowski, SP
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Em meio ao mercado de SAFs e empresas tomando conta das gestões de
clubes de futebol, um dos 20 estreantes da Copa São Paulo de Futebol
Júnior deste ano se destaca pela tradição dentro das quatro linhas e pela
relação familiar entre os dirigentes.

O Bandeirante é um clube amador de Brodowski (SP), a cidade do artista plástico
Candido Portinari, localizada a 337km de São Paulo. Entre 1962 e 1972, o Jaburu,
como é apelidado por utilizar o uniforme com as mesmas cores da ave, era
presidido por Joaquim Saul de Oliveira Passos, o Quinzinho.

O amor do ex-mandatário pelo Bandeirante foi passado para seus filhos. Os irmãos
Guilherme Aleixo (presidente), Márcio Aleixo (vice-presidente) e Joao Victor
Aleixo (diretor executivo), comandam o clube desde 2002.

– A gente brinca que é doente pelo clube, mas mais do que isso, é um legado que
nosso pai deixou para nós. A gente ouve histórias da época do meu pai, de
pessoas contando sobre o amor que ele tinha pelo clube. Eu mesmo não conheci meu
pai, ele morreu quando eu era muito criança, mas esse sentimento refletiu em
mim. É uma emoção que não dá pra explicar, ainda mais quando a gente vive os
sentimentos à flor da pele, estando no dia a dia e tentando levar com muito
profissionalismo – explica o presidente Guilherme Aleixo.

1 de 6 Quinzinho presidiu o Bandeirante por dez anos — Foto: Acervo pessoal

Fundado em 16 de agosto de 1933, o time é o atual tricampeão amador do estado e
conquistou 11 vezes o Campeonato Regional da Liga Brodowskiana. O principal
rival é o Brodowski FC, associação que leva o nome do município e contra quem
protagonizou dérbis inesquecíveis para a cidade de 25 mil habitantes.

Para os irmãos Aleixo, a paixão pelo Bandeirante vai muito além dos campos. São
22 anos desde que os filhos de Quinzinho assumiram o clube e vivenciam
diariamente tudo o que envolve o Jaburu. Entre as loucuras já feitas para estar
próximo do time do coração está uma viagem com mais de 20 horas de duração.

–Temos propriedades em Rondônia. Saí da fazenda para pegar um avião a 250km do
local. O Bandeirante iria jogar em São Paulo. Quando chegamos, o embarque já
tinha sido fechado e precisamos andar 1000km de carro para pegar um voo em
Cuiabá, direto para Guarulhos e chegamos faltando duas horas para a partida –
conta o presidente.

PRIMEIRA VEZ NA COPINHA

Integrante do Grupo 6 ao lado de Botafogo-SP, Azuriz-PR e Tuna Luso-PA, o
estreante realizou investimentos no estádio, para que a cidade pudesse receber
pela primeira vez na história uma edição de Copa SP. Também houve um forte
investimento de R$ 250 mil para filiar o clube às competições de base da
Federação Paulista de Futebol (FPF) e disputar a Copinha em 2025.

– Fizemos nossa filiação há dois anos, do sub-11, ao sub-20. Fizemos um
investimento alto e adequamos o que precisava no estádio. Já queríamos disputar
a Copinha no ano passado, mas a Federação disse que ainda precisávamos de mais
organização. Neste ano conseguimos trazer a sede para Brodowski, com aval da
Prefeitura (…) O investimento foi de R$ 250 mil para Federação Paulista de
Futebol, somente na categoria de base. Todo o investimento do estádio foi feito
de forma particular, por mim e por meus irmãos. Temos alguns patrocinadores que
fazem investimentos, mas nada relevante para gerir o clube. Somos um clube
particular. A única coisa que a Prefeitura nos ajuda é com o transporte –
contextualiza.

2 de 6 Estádio Antônio José Fabbri é a casa do Bandeirante e receberá jogos da
Copa São Paulo — Foto: Bandeirante

Atualmente, 22 atletas fazem parte das categorias de base do clube, que oferece
alojamento e alimentação aos contratados. Ao todo, a diretoria investe cerca de
R$ 70 mil mensais para manter toda a estrutura e seu funcionamento. Os jogadores
chegam à Brodowski por indicações de empresários e da própria comissão técnica

– Temos atletas do Brasil inteiro, apesar da maioria ser de a região. São 22
atletas que moram no clube, estudam na cidade e têm acompanhamento do conselho
tutelar. Precisamos cumprir uma série de requisitos. Isso é possível por conta
do nosso gestor, Marcelo Augusto, que damos todo o aval para que ele possa fazer
o necessário – revela o dirigente.

Quem chega para fazer teste, precisa se manter na cidade com o próprio bolso,
caso o alojamento estiver sem vagas.

– A comissão técnica tem alguns contatos, que vão mandando os atletas para nós.
Ele chega ao clube, fazemos uma avaliação e dependendo do desempenho, é
integrado à equipe. Fazemos as captações e temos parceiros empresários que
mandam pra gente – conta.

O técnico do Jaburu é Ricardo Quandt, que acumula passagens pelas equipes de
base de Coritiba, Athlético Paranaense, Botafogo-SP e Cruzeiro.

3 de 6 Ricardo Quandt, atual técnico do Bandeirante, treinou o Botafogo-SP na
última Copinha — Foto: Agência Botafogo

“REI” DO AMADOR

Em 2024, o Bandeirante disputou – e venceu – pelo terceiro ano consecutivo a
final do Campeonato Amador do Estado, patrocinado pela FPF. O atual tricampeão
da competição coleciona títulos no cenário amador de São Paulo. A explicação
para o sucesso, segundo Guilherme Aleixo, está na organização.

– Hoje o investimento é o nosso maior segredo. Disputamos esse campeonato desde
quando ele existe. A federação nos trata da mesma forma que clubes
profissionais. Captamos muito novos atletas. Antes batíamos na trave por ter
elencos reduzidos, em comparação aos times de capital. Foi aí que começamos a
mirar jogadores de São Paulo e esse foi nosso segredo. É o que queremos fazer
nas categorias de base – confirma.

PRESENTE DO REI

Por fim, uma das histórias mais marcantes da história quase centenária do Bande, é um
daqueles “rolês aleatórios” que só o futebol raiz pode proporcionar. Um dos
diretores do clube na década de 1980, durante a construção do estádio, enviou
uma carta para nomes ilustres do mundo político, empresarial e artístico do
Brasil, para pedir ajuda na construção do alambrado do novo estádio. E
conseguiu.

Entre os investidores do estádio do Bandeirante estiveram o ex-advogado e
Ministro da Justiça do governo de José Sarney, Saulo Ramos, além do Rei Roberto
Carlos.

– Um dos diretores da época enviou uma carta para algumas pessoas influentes,
para pedir que elas fizessem doações para construção do alambrado do campo. As
pessoas que doaram foram a empresária Maria Pia Matarazzo, o advogado Saulo
Ramos, que nasceu em Brodowski, e o cantor Roberto Carlos – conta Aleixo.

4 de 6 Roberto Carlos, o Rei, ajudou a construir o alambrado do estádio do
Bandeirante de Brodowski. — Foto: Evelyn Rodrigues/GloboEsporte.com

PROFISSIONALIZAÇÃO

O desejo de criar categorias de base no Bandeirante veio pela organização
interna que o clube já tinha por disputar as principais competições amadoras do
estado. A profissionalização deve acontecer, mas não tão breve.

– Decidimos ir devagar e sentir primeiro as disputas das categorias de base, já
que os jogos tem um custo elevado dentro de casa, já que temos que arcar com
ambulância, arbitragem, delegado da partida e afins. É um gasto elevado. No
futuro, queremos a quinta divisão para dar uma segunda chance ao atleta sub-20
que não se firmou em nenhuma equipe – projeta.

5 de 6 Bandeirante de Brodowski, campeão amador em 2002, 2022, 23 e 24 — Foto:
Raul Ramos/Ag.Paulistão

OBJETIVOS

Atualmente o grande objetivo do Jaburu é revelar um grande atleta para o
futebol. Alguns jogadores com passagens pelo clube já integram categorias de
base de equipes de grande expressão do futebol brasileiro.

– Já temos garotos formados aqui que foram para Bahia, Santos e Corinthians. É
um trabalho muito recente. Estamos correndo atrás do selo formador da CBF, que
nos garante a participação em possíveis venda dos nossos atletas. Queremos achar
uma revelação e continuar nosso projeto – revela Aleixo.

6 de 6 Bandeirante e Botafogo-SP jogaram no sub-20 em 2024 e se enfrentarão na
Copinha de 2025 — Foto: Agência Botafogo

Mesmo com o desejo de avançar às fases finais da Copinha, o dirigente conhece as
limitações do Bandeirante, mas entende que o peso da camisa vermelha e branca
pode fazer a diferença em momentos decisivos.

– Entraremos para competir. Sabemos das nossas limitações. Nossa comissão
técnica é muito competente. Temos um novo técnico, com um currículo muito
extenso e estamos confiando muito na equipe que está sendo formada. A
expectativa é a melhor possível. Vamos comendo por fora. A gente entende que
nossa camisa é muito pesada no futebol amador e estamos chegando agora com as
categorias de base – finaliza.

* Colaborou sob supervisão de João Fagiolo e Vinicius Alves