Palco 360º, DJ no centro do público, sem repressão policial e fechado: baile funk sai das ruas e vira evento privado em SP
DEs defendem o novo formato por proporcionar que jovens de periferia frequentem outras regiões em busca do ritmo, longe da repressão policial. Mas cobram o governo, que marginaliza o gênero, transformando os bailes de rua em locais perigosos.
A mesa do DJ no centro do público, a música extremamente alta e privado. O que poderia ser uma festa de música eletrônica em São Paulo, desta vez, é um pancadão.
No último ano, o funk paulista, depois de dominar as ruas, também passou a marcar presença em ambientes fechados e em regiões mais centrais. Eventos como a Submundo 808 e o Boiler Room vêm esgotando ingressos na capital e chamando a atenção do público.
Algumas características desta estética vão contra os pilares do baile funk, que são manter a festa na rua, de forma gratuita. Mas, por outro lado, os eventos vencem um trauma deixado nos bailes de rua em 2019, quando a polícia de São Paulo matou nove jovens na dispersão de um baile em Paraisópolis.
Repressão ao baile funk: ao menos 16 pessoas foram mortas e 6 adolescentes perderam a visão em ‘operações pancadão’ em SP, diz pesquisa.
Para quem está tocando e produzindo as festas:
– Os eventos fechados são uma maneira de exportar a música de baile para outros locais;
– Atraem mais moradores das periferias para regiões da cidade que normalmente eles não frequentariam;
– Dão mais visibilidade para produtores periféricos;
– São consideradas mais seguras.
Privam um evento cultural que nasceu para ser oferecido de maneira gratuita para a população;
Expõem o gênero do funk a locais mais rigorosos em aceitar o ritmo.
Na capital paulista, na sexta-feira (6), rolou uma edição do Boiler Room com um lineup quase que inteiramente formado por DJs de funk: Afreekassia, Dj Blakes, Dj Caio Prince, Dj Dayeh, Dj GBR, Dj Lorrany, Kenan e Kel, Kyan, Lys Ventura, Mc Luanna, Mc PH, Mc Tha, Mu540 e Nogueira Dj.
E, nos últimos meses, São Paulo também vem recebendo edições da Submundo 808, um selo de Campinas, no interior do estado, que faz festas privadas de funk. A Submundo ficou tão popular que passou a receber em suas edições em Campinas ônibus fretados da capital com pessoas que iriam para a festa. Nas edições paulistanas, foram mais de 10 mil ingressos vendidos em menos de 10 minutos.
Na prática, o que isso significa? O funk paulista entra em ambientes que o aproximam de vez da música eletrônica, inclusive, passando a ter o mesmo público dessas festas.
Privatiza, mas fica seguro. Festa Submundo privada em Campinas, no Interior de SP.
Caio Prince, de 23 anos, DJ, produtor musical e também estudante de ciências sociais, avalia que as festas proporcionam uma segurança que o poder público não consegue oferecer nos bailes nas ruas.
Caio é DJ de funk, mas começou a sua carreira já tocando em locais fechados. “Eu comecei a tocar na cena underground, mas sempre colei nos bailes de rua. E entendi desde o começo que não era seguro, principalmente pela marginalização do funk. Que sofre com diversas questões estruturais, políticas, que fazem com que a gente não se sinta confortável, mas é um lugar de lazer.”
Ainda segundo Caio, a sensação é que os bailes são sempre tratados como se fossem algo ilegal. “Não temos espaço, parece que tudo o que fazemos é ilegal. A Secretaria da Cultura, no momento que quer bate, no peito para dizer que o funk é lindo, que a nossa cultura é linda. Mas quando a gente está lá, no nosso momento de lazer, a realidade é diferente.”