Pais e advogados questionam atendimento para crianças vítimas de violência em Jundiaí: ‘Meses para agendar psicóloga’
Conforme eles, problemas vão desde o atendimento inicial até a tramitação na Justiça, incluindo fases como a escuta especializada.
A situação envolvendo o atendimento de crianças vítimas de violência em Jundiaí (SP) tem sido alvo de críticas e questionamentos de pais e advogados da cidade. Os problemas, conforme relatos enviados ao DE, vão desde o atendimento inicial até a tramitação na Justiça, incluindo fases como a escuta especializada que, em um dos casos, chegou a ser agendada para mais de um ano após o suposto abuso sexual contra uma criança.
A mãe de uma criança de sete anos, que preferiu não se identificar, contou que enfrenta problemas com o Poder Judiciário e também com a Polícia Civil. Segundo ela, a filha teria sido abusada quando tinha seis anos e, quase um ano depois, o caso ainda não foi resolvido e o suspeito está em liberdade.
Ela ainda afirma que alguns documentos sumiram durante o andamento do processo, e que o problema só não foi maior porque ela tinha cópias. Ela reclama também que o caso foi ao Ministério Público somente dois meses depois, e que a “oitiva” com a criança, que significa a escuta especializada, foi marcada para apenas outubro de 2025, mais de um ano após o suposto abuso. “É erro atrás de erro”, reclama.
OUTRA DEMANDA ALTA, MAS POUCOS PSICÓLOGOS
Outra mãe relatou ao DE que a demanda no fórum da cidade, com relação a essas questões, está muito alta. “Ainda mais se tratando de crianças e crimes sexuais. A gente precisa expor isso pra população”, reclama.
Segundo ela, o fórum da cidade teria apenas dois psicólogos, mas que atendem outras cidades, como Cajamar. “Por isso não tem data disponível”, afirma.
O problema com o número reduzido de profissionais no fórum também é alvo de reclamações das mães na delegacia de Jundiaí, onde, segundo elas, também há uma demora na realização de exames.
Além dos pais, advogados também reclamaram da situação. “Infelizmente, é algo que vem acontecendo há anos. [Há] demora em procedimentos específicos de extrema importância. Por exemplo, a oitiva das vítimas”, reclama um deles. “As mães têm medo de denunciar, infelizmente”, reconhece.
O próprio Conselho Tutelar da cidade endossa a questão de alguns problemas, em especial sobre a escuta especializada. A instituição fala da necessidade de instituir, preferencialmente nos conselhos de direitos das crianças e dos adolescentes, o comitê de gestão colegiada da rede de cuidado e de proteção social das crianças e dos adolescentes vítimas ou testemunhas de violência.
A finalidade desse comitê é articular, mobilizar, planejar, acompanhar e avaliar as ações da rede intersetorial, além de colaborar para a definição dos fluxos de atendimento e o aprimoramento da integração do comitê.
De acordo com a entidade, no projeto pode ser interessante, mas não sai deste lugar, pelos mais diversos motivos, é o que nos é informado. O Conselho finaliza falando de vários pontos, incluindo novas normas e legislações e questionando quando haverá medidas efetivas para resolver a situação na cidade.
O Hospital Universitário da Faculdade de Medicina de Jundiaí (HU), em nota, afirmou que reafirma seu compromisso com o bem-estar e a segurança de todos os pacientes, especialmente os mais vulneráveis. “Reconhecemos a gravidade das situações e garantimos que esses casos recebam atenção imediata, otimizando o fluxo de atendimento e priorizando-os com a urgência que merecem. O HU conta com um ambiente seguro e acolhedor para o atendimento dessas crianças, além de uma equipe capacitada composta por médicos, psicólogo, assistente social e enfermeiro, todos treinados para lidar com a complexidade dos casos”, diz.
A 33ª Subseção da Ordem dos Advogados de Jundiaí (OAB) afirmou que é de conhecimento da entidade a ausência de profissional de psicologia disponível para escuta imediata da vítima, criança ou adolescente, “a qual deve ser especializada, ou seja, com o acompanhamento de profissional capacitado”. A OAB disse também que acompanhará as correições de dezembro, a fim de monitorar o andamento dos casos, tanto na Vara da Infância e Juventude, quanto na delegacia competente.