Nova espécie de planta Lippia aonae descoberta nos campos da Serra do Espinhaço: potencial farmacológico e ameaças severas

Descoberta nova espécie de planta nos campos rupestres da Serra do Espinhaço. Lippia aonae possui alto potencial farmacológico, mas enfrenta ameaças.

Nova espécie de planta é descoberta nos campos rupestres da Serra do Espinhaço

Lippia aonae tem alta relevância ecológica e possível potencial farmacológico, mas enfrenta ameaças significativas.

Lippia aonae foi descoberta em campos rupestres da Serra do Espinhaço — Foto: Danilo Zavatin

Em 2021, enquanto analisava a coleção de plantas do herbário da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), dois espécimes (indivíduos coletados no campo e herborizados) provenientes de Monte Azul (MG) e região chamaram a atenção do botânico Pedro Henrique Cardoso, doutor no assunto pelo Museu Nacional/UFRJ.

As características únicas dos exemplares despertaram imediatamente a suspeita de que se tratava de uma espécie ainda não descrita pela ciência. De pequeno porte, com folhas aromáticas e flores delicadas, a espécie Lippia aonae foi descoberta em campos rupestres da Serra do Espinhaço.

Segundo Pedro, um dos autores do artigo, as investigações preliminares sugeriram que a planta poderia pertencer aos gêneros Lantana ou Lippia, que são bem parecidos e pertencem à família Verbenaceae. “Atualmente, a distinção entre estes gêneros é feita com base nas características do fruto, o que orientou as etapas seguintes da pesquisa”, relata.

Espécie é considerada Vulnerável (VU), segundo critérios da IUCN — Foto: Danilo Zavatin

A espécie é classificada como Vulnerável (VU) de acordo com os critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) devido à sua distribuição restrita e às ameaças locais, incluindo principalmente atividades de pastoreio.

Semelhante à Lippia raoniana, a nova espécie se diferencia por seu porte menor, seus ramos não possuem sulcos, as folhas são menores, arredondadas ou ovais, com uma textura lisa e brilhante quando vivas. Além disso, as pequenas estruturas chamadas de brácteas (parte da inflorescência) têm tricomas (pelos) mais longos e espalhados em ambas as faces.

A BUSCA POR EXEMPLARES

Assim que levantou a hipótese de uma nova espécie, Pedro se dedicou a investigar a existência de outros espécimes, consultando herbários brasileiros e plataformas virtuais. Contudo, a busca não encontrou outras coletas da planta.

Sabendo que os espécimes haviam sido coletados na região de Monte Azul e que o projeto PAT Espinhaço estava conduzindo uma série de expedições científicas nessa área, Pedro entrou em contato com o pesquisador Danilo Zavatin da USP.

“Compartilhei com ele todas as informações sobre as características da planta e suas possíveis localidades de ocorrência, buscando apoio para coletar novos indivíduos e, assim, obter dados mais detalhados sobre a espécie”, diz Pedro Henrique.

Após buscas pela planta e várias tentativas sem sucesso, Danilo conseguiu localizar uma subpopulação no Parque Estadual Serra Nova e Talhado, onde coletou algumas amostras. A partir daí, os botânicos trabalharam juntos para escrever o artigo, publicado no mês passado na revista Acta Botânica Brasileira.

Parque Estadual Serra Nova e Talhado, localizado em Minas Gerais — Foto: Euge.nunes / Wikimedia Commons

“A flora brasileira é extremamente rica, mas muitas de suas plantas, como Lippia aonae, ocorrem em áreas de difícil acesso e, em diversos casos, foram coletadas poucas vezes, o que torna o trabalho dos taxonomistas ainda mais desafiador e relevante”, afirma Pedro.

Para ele, a descoberta destaca a importância de maiores investimentos em ciência e em expedições de campo, que são cruciais para expansão do conhecimento sobre a flora do Brasil e, consequentemente, a conservação das espécies. “Isso é notável tratando-se da Serra do Espinhaço, uma região com elevadas taxas de endemismo”, completa.

“Garantir a sobrevivência dessa espécie e de outras requer um conjunto integrado de ações que envolvam ciência, legislação e práticas de conservação no campo. Embora Lippia aonae ocorra em áreas protegidas, existem ameaças como a criação de gado, incêndios provocados por atividades humanas, mineração e outros empreendimentos de grande escala que comprometem a integridade dos ecossistemas locais e das plantas endêmicas”.

IMPORTÂNCIA DA ESPÉCIE

A nova espécie desempenha um papel essencial no ecossistema, contribuindo para a manutenção da fauna ao fornecer recursos, como néctar, aos visitantes florais e polinizadores.

“Como parte integrante da vegetação local, ela contribui para a funcionalidade do ecossistema e a resiliência do ambiente em que ocorre. A interação com outros organismos e seu papel na dinâmica do ecossistema reforçam a importância de preservar não apenas a espécie, mas também seu habitat natural”, ressalta o autor.

Além de fundamentar estudos taxonômicos e ecológicos, a espécie Lippia aonae também poderá ser estudada do ponto de vista medicinal, especialmente considerando o alto potencial farmacológico registrado para várias outras espécies de Lippia.

“É imprescindível fortalecer a legislação ambiental, garantindo sua aplicação efetiva e expandindo a proteção de áreas críticas com elevada biodiversidade. O manejo sustentável das áreas adjacentes e programas de educação ambiental para comunidades locais, também são medidas essenciais para mitigar os impactos e assegurar a conservação dessa e de outras espécies ameaçadas”, finaliza Pedro Henrique Cardoso.

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