Das cinzas à glória, o brasileiro campeão por Nacional e Peñarol quase trocou a bola pelo volante: “Não servia”
Léo Coelho é o único brasileiro que conquistou o Campeonato Uruguaio pelos dois maiores clubes locais no século 21; segundo o atleta, a vitória sobre o Flamengo na Libertadores foi como um título. A agonia que tomava conta do coração em agosto de 2019 hoje é apenas uma lembrança da árdua caminhada de Léo Coelho, único brasileiro a se sagrar campeão uruguaio com as camisas dos rivais Nacional e Peñarol no século 21. Agora um respeitado atleta no país de Luis Suárez, que foi seu companheiro de equipe, o zagueiro quase desistiu da bola e esteve a poucos dias de trocar o futebol pelo volante. Um telefonema com um convite para um teste aos 26 anos impediu isso.
Foram oito meses de desemprego após a disputa da Série A2 do Paulista de 2018 com a Portuguesa. Recolocou-se no futebol no início do ano seguinte para jogar a A-3 com o Comercial. O problema é que após o término do contrato, em abril, não pintava mais nenhuma oportunidade interessante. Em agosto, triste e sentindo-se um inútil, mexeu-se para trabalhar fora do futebol. Estava decidido a trabalhar como motorista de aplicativo. – Fui para o Comercial (em 2019), na Série A-3, ganhando pouco. Acabou a Série A-3 em abril e foram mais quatro meses (desempregado). Treinava, me preparava, conversava com os empresários buscando sair da situação, mas chegou um momento que para mim não dava mais. Em dois anos, eu fiquei um ano desempregado. Conversei com minha esposa e meus pais porque eu, como homem, sentia que não estava servindo para nada.
– Eu acordava, só ia à academia, treinava e voltava para a casa. Não tinha trabalho, não fazia nada, era o dia inteiro dentro de casa. Comecei a me sentir muito mal com isso. E não via saída, porque os clubes que às vezes apareciam ou que poderiam aparecer eram possibilidades pequenas e que não iam mudar minha situação e nem melhorar o projeto que eu tinha para a minha família. Até que quando estava prestes a jogar tudo para o alto, Léo ouviu de seu empresário que havia uma chance no Fénix, do Uruguai, mas não passava de alarme falso.
– Apareceu a oportunidade de ir para o Uruguai, e eu aceitei. Mas o empresário ligou e disse: “Léo, não vai dar certo para você ir”. Íamos eu e um atacante. Levaram só o atacante, o Rodrigo. Isso para mim foi o limite. Com a paciência no fim, Léo tinha duas possibilidades fora do futebol: ou trabalhar numa concessionária para o qual um conhecido havia lhe indicado ou atuar como motorista de aplicativo. Escolheu a segunda opção e já estava se preparando. Já tinha feito videoaulas e resolvido burocracias para a iniciar nova atividade. Até que o telefone tocou novamente. – Eu tinha um Celta, e era a saída mais rápida. Fui no Detran, fiz a mudança da carta (de motorista) que é necessária, cheguei a baixar o aplicativo para fazer os cursos e já estava tudo certo para eu começar. Quando toca o telefone, numa quarta-feira, o Fénix tinha perdido de quatro do Liverpool e ligaram para o meu empresário e perguntaram: “Aquele zagueiro consegue vir sábado, agora, para duas semanas de teste?”. Eu, com 26 anos e com filho recém-nascido, ia fazer teste.