Suspeitos de aplicar golpe com falsa garota de programa tinham manual da extorsão: ‘Fala que é cafetão da facção’
Na sexta-feira (13), agentes da 17ª DP (São Cristóvão) prenderam Ryan Carlos e Sarah Borges. Rayene Carla, outra integrante do grupo, está foragida da Justiça. A polícia já contabiliza mais de 30 vítimas.
O grupo de golpistas que utilizava falsas garotas de programa para atrair e extorquir vítimas na internet através de ameaças tinha um manual para repassar os métodos do golpe para novos integrantes do bando.
Batizado de “Golpe das P* Extorsão”, o documento interceptado pelos policiais da 17ª DP (São Cristóvão) é dividido em cinco tópicos, com o passo a passo para a aplicação do golpe.
Veja as orientações dos criminosos:
* “1 – Primeiro de tudo, meus amigos, sobe vários perfis de acompanhantes em vários lugares (na internet). Encaminhem pro whatsapp.
* 2 – Agora, você vai vendo os caras que vai chamar, marcando com eles horário fingindo que é a p* (prostituta).
* 3 – Agora vem o golpe: Tem muito cara que marca e some e não vai. Você vai fazer o seguinte: puxa os dados dele e toma muito cuidado nessa parte. Pega um chip laranja, não conecta em wifi, usa só 4G e faz um whatsapp.
* 4 – Chama o bico (vítima) e ameaça ele, fala que tu é cafetão da facção da sua cidade. E que ele tem que pagar uma taxa de R$ 100. Manda o endereço dele e fala que vai passar lá. Fala que ele ta fazendo suas p* (prostitutas) perderem tempo marcando com elas.
* 5 – Bico (vítima) vai se borrar todo, usa uma lara (laranja) e some com o chip depois da extorsão e vai fazendo o trampo.
DOIS PRESOS E UMA FORAGIDA
Na última sexta-feira (13), policiais da 17ª DP (São Cristóvão) prenderam duas pessoas envolvidas no esquema de extorsão que utilizava falsas garotas de programa para atrair vítimas. Ryan Carlos Reis Lima e Sarah Santos Borges foram presos e Rayene Carla Reis Lima está foragida da Justiça.
Segundo a polícia, os três adaptaram o golpe que estava escrito no manual e começaram a fazer vítimas no Rio de Janeiro. Os golpistas conversavam com os alvos, pediam fotos de partes íntimas e pegavam seus dados pessoais. No dia seguinte, eles se passavam por milicianos e cobravam pelo suposto programa da noite anterior, ameaçando os ‘clientes’ de morte.
> “Se eu chegar na sua casa não tem conversa”; “Te dei a chance de resolver”;
> “Quer brincar com miliciano”; “Se não tiver com o valor vamos te matar”,
> diziam os golpistas.
Segundo os investigadores, pelo menos 30 pessoas sofreram com o golpe. A TV Globo teve acesso a algumas das mensagens trocadas pelos criminosos com as vítimas. Os suspeitos pediam entre R$ 600 e R$ 3,5 mil para não expor os alvos nas redes sociais.
FALSA GAROTA DE PROGRAMA
De acordo com a Polícia Civil, o golpe aplicado pelo trio funcionava em duas partes. Primeiro, uma mulher se apresentava como garota de programa e puxava assunto com os alvos do bando.
Quando ela conseguia atrair um suposto “cliente”, eles começavam a conversar por meio de aplicativos de troca de mensagens. Conforme o papo ia esquentando, a mulher pedia para a vítima mandar fotos de partes íntimas ou se masturbando.
Após algum tempo, o papo era finalizado ali mesmo, sem nenhum contato físico entre a mulher que integrava o grupo criminoso e a vítima.
No dia seguinte, uma outra pessoa começava a segunda etapa do golpe: pesquisa e extorsão. O grupo conseguia reunir o maior número de informações possíveis dos alvos, como dados pessoais dele e de parentes, além do endereço da vítima.
Com essas informações, os golpistas entravam em contato com a vítima se passando por milicianos. Segundo as conversas interceptadas pela Polícia Civil, o criminoso dizia para a vítima que ele tinha deixado de comparecer em um suposto programa com a mulher que ele havia conversado na noite anterior.
Nas mensagens obtidas pela TV Globo é possível ver que os golpistas diziam que o “cliente” teria que pagar pelo falso programa e mais uma taxa por ter feito a falsa garota de programa perder outro cliente.
A extorsão seguia com muitas ameaças de exposição das fotos da vítima em redes sociais ou para filhos e esposas, além de mostrar que eles sabiam de dados sensíveis da vítima, como endereço, nome completo e CPF, por exemplo. Os investigadores da 17ª DP estão reunindo os registros feitos sobre crimes como esse para contabilizar o número total de vítimas do bando. Até o momento, são 31 registros de ocorrência contra o grupo que aplicava o golpe do falso programa.
Segundo a delegada Márcia Beck, responsável pela investigação, o número de vítimas deve ser bem maior do que o dado oficial, visto que as pessoas têm vergonha de denunciar a extorsão pela natureza do crime.